O ENADE na perspectiva da análise do discurso

O redimensionamento das avaliações educacionais, com a adoção das avaliações em larga escala como estratégias de gestão educacional do ensino superior, e o conjunto de fenômenos sociais decorrentes da implantação dessa Política Pública configurou a problemática sobre como o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é difundido pelos atores sociais envolvidos, dada a profusão de informações, dados e discursos a respeito após treze anos de sua implantação. A pesquisa realizada utilizou-se da Análise do Discurso (AD), de base francesa, como teoria e método para a condução dos trabalhos. Definiu-se como foco o estudo da avaliação governamental sistêmica do ensino superior em vigor, ou seja, o ENADE, desde a sua fase de implantação até o fim de 2017. Bem como, o conceito de mídium, formulado por Régis Debray e apropriado pela AD francesa por Maingueneau, para contemplar a análise de três interlocutores, representando diferentes espaços sociais e variados gêneros, necessariamente textuais. Assim, foram analisados os discursos desde a perspectiva do Poder Público, por meio das normas legais; da perspectiva da mídia impressa, através do Jornal Folha de São Paulo; e dos discursos formulados pelas instituições de ensino superior privadas, a partir da publicação ‘Revista Ensino Superior’, mantida pelo sindicato dos mantenedores. Tudo isso com o objetivo de verificar como se estabelece os discursos a respeito da relação entre o exame ENADE e a ideia de qualidade. Com o início das análises, formularam-se eixos analíticos para desenhar as tendências discursivas, considerando-se a grande quantidade de dados. A hipótese inicial de pesquisa apontava para a existência de polêmica e polissemia discursiva nos interdiscursos desses mídiuns, tendo sido confirmada, ao final, pelos resultados das análises. Entretanto, observada ainda, para além dos interdiscursos, grande turbulência intradiscursiva nas formações discursivas geradas dentro de um mesmo mídium.