Pra que ensinar literatura pra quem carrega saco nas costas?
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Resumo / Abstract
Esta pesquisa objetiva responder a pergunta realizada por um aluno do Ensino Médio de uma Escola Pública : "Pra que ensinar literatura pra quem carrega saco nas costas?" Leahy - Dios, Candido, Gonçalves, Ostrower , Geraldi e Compagnon sinalizaram que o desinteresse do aluno pela literatura tinha causas sociais, ligadas ao utilitarismo advindo da racionalidade espalhada na sociedade, que se materializa em situações objetivas como comer, vestir-se, abrigar-se sob um teto ou arrumar um emprego, contexto que não faz a literatura, enquanto arte, interessante. Entrevi, acompanhada de Sabato, Walty , Britto , Kramer e Geraldi os fantasmas que assombravam os alunos, que não se reconheciam como autores de seus próprios textos, observando que os mesmos não escreviam textos por prazer, mas para cumprir tarefas escolares, como trabalhadores. Busquei, então, uma forma de leitura e escrita que se diferenciasse do cotidiano das aulas e permitisse o não temor aos erros ortográficos, um fantasma sempre presente. Encontrei-a em Memorial do Fim, de Haroldo Maranhão. Em quatro capítulos dessa obra, o autor realiza um processo de apropriação, utilizando-se de fragmentos literários retirados de romances de Machado de Assis, não usando nenhuma palavra sua. Munida da fórmula de Maranhão, apliquei-a num exercício de leitura e escrita, numa 3° série do Ensino Médio - período noturno , da BE. Prof. Carlos Augusto de Camargo", em Piedade para responder ao aluno inquisidor e a mim mesma, enquanto professora de Língua Portuguesa e Literatura: "pra que ensinar literatura pra quem carrega saco nas costas?" A exemplo de Haroldo Maranhão, que escolheu as obras de Machado de Assis selecionei o conto Senhoras de Tchekhov, que narra a história de um professor que estava prestes a perder o emprego. Como resultado, surgiram criações com enfoques diferenciados, porém em nenhum momento os alunos, enquanto jovens trabalhadores , se distanciaram do trabalho e do "saco nas costas" No caminho de Maranhão, foram criadas vinte e uma novas narrativas, num processo de construção semelhante a um quebra - cabeças, onde os alunos retiraram as peças do conto Senhoras de Tchekhov para a construção de suas próprias criações , cujas análises foram realizadas através da Crítica Genética, seguindo os passos de Salles, De Biasi, Gresillon, Hay e Zular. A pesquisa provocou uma ação de simultaneidade, pois a medida em que os vinte e um quebra-cabeças eram montados pelos alunos, em seus textos, havia se montado um outro, o meu, cuja forma permitiu-me captar que a pergunta do aluno-inquisidor havia sido direcionada a mim, enquanto professora de Língua Portuguesa e Literatura, portanto profissional da educação. Uma pergunta, numa noite, vinda do fundo de uma sala de aula do Ensino Médio, através da voz de um aluno, trouxe-me a consciência da importância de ensinar literatura a quem carrega "saco nas costas"