Corpo presente, corpo ausente no cotidiano escolar
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Resumo / Abstract
O interesse principal deste estudo, relacionado ao fenômeno da corporeidade, é compreender, em uma abordagem qualitativa, como alunos do Ensino Médio concebem e expressam um corpo presente e ausente em aulas de Educação Física. Em busca de conhecimentos subsidiários ao interesse principal, investiga-se o significado que os sujeitos atribuem ao corpo, corpo saudável, doente, cerceado, livre, humilhado/vaidoso, ativo/passivo, corpo objeto/sujeito e que desperta diferentes sentimentos. Procura-se conhecer, também, como os corpos dos sujeitos analisados se relacionam com outros corpos e quais são alguns dos limites e possibilidades que o cotidiano escolar coloca à expressão da corporeidade de adolescentes. Apoiado em bases filosóficas sobre a fenomenologia do corpo e direcionado à intrincada realidade do ambiente da escola, este trabalho recorre a técnicas de observação e entrevista e as aplica em nove alunos do Ensino Médio de uma escola da rede particular de Sorocaba SP. Esses alunos foram observados em aulas de Educação Física voltadas à prática do boxe, e posteriormente entrevistados. As narrativas verbais e corporais desses sujeitos, interpretadas à luz do Paradigma Indiciário de Carlo Ginzburg e do referencial teórico com que o trabalho dialoga, forneceram-nos indicadores, dos quais foram extraídos sinais que, por sua vez, geraram indícios de um corpo dicotomizado e comportado no contexto em estudo. Nessa realidade, em que apenas a fisiologia “aprende” e não se problematiza a complexidade do corpo, a Educação Física, ao fazer perdurar a antiga dualidade, repete o erro que critica na dinâmica de outros componentes curriculares: ou seja, uma aprendizagem sem “alma”, equivalendo-se àqueles que praticam uma aprendizagem sem corpo. A meio caminho entre uma liberdade vigiada e uma disciplina cada vez mais anacrônica, e quase sempre sob uma produtividade que eufemiza o controle, os corpos são vistos comportados, não totalmente cerceados, mas tampouco totalmente livres. Embora as aulas de Educação Física sejam apontadas como o reduto na escola onde menos os sujeitos se sentem distanciados do que são em sua essência, a condição de disciplinados ainda é geradora de interrupções e um empecilho à formação humanizada. Dicotomizados, comportados e sob influência das demandas contemporâneas da silhueta, os corpos, presentes e ausentes a um só tempo, perdem em subjetividade, reificam-se e, em consequência, veem sua presença – uma presença somente para si – diminuir no cotidiano escolar. A Educação Física, desde que se reconfigure como um espaçotempo favorecedor de novos sentidos ao corpo, tem um papel importante na tarefa de ressignificá-lo e de lhe dar centralidade no processo educativo, a fim de que, completada a sua libertação, ele aceda à condição de sujeito, supere muitos dos entraves que aumentam a sua ausência nos domínios escolares e se torne mais presente.