Ensino de português em cursos superiores: razões e concepções
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Resumo / Abstract
Esta pesquisa discute a oferta de disciplinas de Língua Portuguesa em cursos superiores de diversas áreas do conhecimento. Parte-se da constatação de que há um discurso corrente segundo o qual os estudantes universitários têm dificuldades de leitura e escrita (CARONE, 1976; LEMOS, 1977; PÉCORA, 1989 [1984]; HANSEN, 1989; ROCCO, 1981, 1982; BRITTO, 1983; CARVALHO; SILVA, 1996; CASTELLO-PEREIRA, 2003) e que, diante de tal situação, admite-se como plenamente justificável o ensino de Língua Portuguesa em cursos superiores, não se observando o necessário debate em torno das razões da oferta dessa disciplina em cursos não específicos da área da linguagem, nem as concepções de língua que sustentam seus programas. Visando investigar como se considera a questão do conhecimento da escrita na Educação Superior brasileira contemporânea, buscou-se mapear a oferta de Língua Portuguesa por diferentes IES; verificar as razões que levam à oferta da disciplina em curso não específico da área da linguagem; examinar as propostas de ensino, identificando o caráter predominante e suas concepções de linguagem e de formação acadêmica. Admitindo-se, inicialmente, que a disciplina responderia a concepções de ordem reparadora, instrumental ou discursivo-textual, realizou-se um estudo pormenorizado de currículos de cursos das áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, Ciências Humanas e Ciências da Saúde, por meio de pesquisa nos sítios eletrônicos de universidades escolhidas entre diferentes categorias e perfis de instituição. Optou-se pela pesquisa qualitativa, com base em análise de conteúdo. Pelos resultados obtidos, verificou-se uma tendência à maior oferta pelas universidades privadas, enquanto as universidades públicas, de modo geral, apresentam oferta reduzida. Com relação aos cursos, observou-se maior presença da disciplina em carreiras das Ciências Sociais Aplicadas, constatando-se menor oferta entre os cursos de Saúde. A análise dos programas permite sustentar que as disciplinas de Língua Portuguesa respondem a no mínimo três vertentes: a) caráter reparador – visa superar deficiências da escolaridade anterior; b) caráter instrumental – atende a razões pragmáticas, de modo a instrumentalizar os estudantes para o exercício profissional; c) caráter discursivo-textual – tendo como foco o texto e o discurso, compreende o aprendizado da língua por suas relações com o processo cognitivo, valorizando o discurso acadêmico e a possibilidade de desenvolvimento intelectual. Saliente-se, contudo, que essas concepções não são autoexcludentes, não ocorrendo de maneira isolada nas disciplinas. Notase frequentemente o ajuste de uma vertente a outra, de modo a atender às mais variadas demandas. Quanto às razões e concepções desses cursos, vários aspectos parecem estar imbricados na questão. A partir das questões que emergiram neste trabalho, inúmeras são as perspectivas que se abrem a novas pesquisas, de modo a aprofundar o debate em torno do Português na Educação Superior.